segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Os caminhos até a gruta


Quando a lua está cheia Mica ilumina os caminhos
subidas ingrimes
fotografias
registros de momentos únicos.

Grutas escuras
àguas límpidas e perigosas
Sugestões erroneas
diversos caminhos a seguir,
somente um leva-nos a você
lagoa doce,
escura
e fria.

Pena na cabeça
garrafas à mão
saciando a sede
Lodo verde
marcas de patas de cães
libélula cor de rosa no ar.

Coleto pedras
as brancas,
as esverdeadas,
as preciosas.

Explosões,
Implosões,
corrosões não naturais
Repetitivas indagações
em cinco diferentes tímbres
apenas uma importa
Adaptações que a natureza faz ou intervenções humanas demais?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A tua fotografia e as minhas memórias

         Hoje encarei teus olhos como há muito não fazia.
      As sobrancelhas bem feitas sob esses olhos ligeiramente entreabertos, sempre muito atentos a tudo. Os lábios carnudos pintados de vermelho paixão, como costumavas declarar. Passeei curiosamente por tua expressão, na pretensão de adivinhar teus pensamentos até o momento daquele flash, que registrara essa imagem para o deleite de outros olhos. A memória é por vezes falha, mas guarda preciosidades. Notei o azul claro e o branco de sua blusa, recordei-me do dia em que a adquiriu, estavas estonteante de alegria, empolgada com o tão esperado encontro da noite seguinte. Incansáveis planos para que tudo corresse bem, por fim escolhera a roupa mais simples, arrumara os cabelos como de costume, o sapato mais confortável e limpo possível, usara os brincos de sempre, no pulso esquerdo aquele relógio herdado de vosso pai e nenhum anel nos dedos. Perfumara-se e na hora marcada, conforme o combinado com seu amado saíra, mas não sem antes me dar um beijo na testa e dizer: "Não vá dormir tarde, minha querida, sabes que tem responsabilidades com teu futuro, logo cedo." Fiz cara de 'nojinho' e retruquei: pode deixar, apenas divirta-se e não se preocupes comigo. Ela saiu sorrindo.
       Há momentos em que minhas memórias se fazem mais nítidas, como película nova e noutros me perco confundindo as histórias. Naqueles olhos muito atentos que encarei depois de tanto tempo estavam o objetivo de Ser e não de Ter. E pela primeira vez em doze anos não senti vontade de chorar (ora, mas que mentira, estou chorando agora), posso sentir teus olhos sobre mim.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Toda areia




Cada grão seja quente ou fresco tem uma história
Todos os informes
Mesmo os mais disformes
Biquínis cor do céu
Água salgada
Ondas que batem
Quase tudo num tom esverdeado.

Fascínio de rostos sorridentes,
ao pular uma onda mais forte
o mar bate violentamente nos corpos
Tens os pés na expectativa de segurar.

Corres de uma ponta a outra
num exercício de pensamentos sujos.
Toda areia, cada corpo feminino, masculino ou ainda menino
sempre tem muito o que dizer.

Aquela estrada quente
Água gelada
Areia viscosa
Tendo sede: coco
Tendo fome: observe os mais famintos e a tua passará.

Tantas vozes,
O vento fresco
O mar cantando
Meu corpo trôpego caindo por sobre teus forte seios, mãe água.

E tudo não passava de um sonho bom
Mas a praia continua lá
Quente e fresca esperando minha visita.