segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Até que ponto é amor?

Um homem segurando um filhote de cão puxa sua coleira com violência para que o pequenino não consiga se soltar... este por sua vez parece faminto.
Observavamos tudo da mesa onde estávamos, a poucos metros (não conseguiamos tirar os olhos deles)
O homem se levanta em direção ao banheiro e deixa o cãozinho nas mãos de um amigo, no chão um copo com cerveja, com muita sede o cão toma daquele líquido impuro. Uma minha amiga se levanta e segue em direção a mesa onde estavam as pessoas junto ao cão, ela fala algo no ouvido do homem e a mulher ao lado retruca: "foi o dono quem deixou, fale com ele, não temos nada com isso." Ela retorna a sua mesa e indignada reclama sem parar: "pobre cãozinho, temos de tirá-lo daquele homem." O 'dono' volta do banheiro todo sorridente e pega o copo no chão levando-o até a boca, minha amiga se levanta para falar com ele sobre o ocorrido, o homem sorri e lhe responde que o cão come da comida dele no mesmo prato e que tudo que ele faz o cão também faz. Ela volta pra mesa muito chateada e triste por não poder fazer nada pelo pequenino. O homem vem até nós e lhe explica que seus filhos cresceram, sua mulher faz plantão e nunca para em casa, por isso ele arranjou um cãozinho para fazer-lhe companhia. Não me contenho e pergunto se o homem não gostaria de me dar o cão, minha amiga ainda exclama: "ela se apaixonou pelo cãozinho, dê pra ela!" Ele simplesmente responde que o cão é a cara do dono e que eu deveria me apaixonar por ele, sem sexo, sem intenções carnais... mantenho-me calada e aperto sua mão, num gesto de quem entende o que é se sentir sozinho. Pagamos a conta, levantamo-nos e atravessamos a rua, olho pra trás e vejo o homem com o cãozinho no colo dançando e gritando: "Lion, você é o meu grande amor!!"

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O (re) nascer ou não de um poema

O travesseiro subitamente amanhece no chão,
manhãs de segunda, pós feriado são assim, só há um sentimento - preguiça
E somente quando acordei foi que  pude resgatá-lo
Ledo engano,
o resgate em questão é de um poema sonhado enquanto dormia.
Levanto apressadamente,
pego papel e caneta, mas ele não vem
corro para o banheiro,
retiro as roupas,
tomo banho
água quente para lembrar,
no fechar e abrir do chuveiro as palavras começam a surgir de forma de-sor-de-na-da
E no respingar das gotículas de água de meus cabelos
elas se fazem mais nítidas
conotativas, denotativas, mas sem objetivo.

Termino o banho,
seco-me, visto-me,
volto ao quarto às 7h15 da manhã para rabiscar tais palavras soltas de mim
e registrar o que não me pertencia.
A caneta e o papel esperavam-me sorridentes, seriam usados para um bom fim.
A fruição poética se inicia singelamente ingênua
Os latidos de carência do cão vizinho...
Uma sequência desconexa,
placebo,
motorheard,
motor reação,
bateria cadenciada,
mão desarmada
homem de-sal-ma-do
invejoso, solitário
abusivo e indigno de perdão.

Na vigência dos sonhos, calcei os sapatos
guardei o papel e a caneta na bolsa na tentativa de restabelecer os sentidos,
reequilibrar a pulsação,
sai de casa fechando a porta com a chave,
mas sem previsão de retorno
algo lá fora tinha urgência de começar, era o 1º  dia do mês
não se pudia parar os inventos
as conexões
mesmo as mais desconexas
e o poema simplesmente sumiu com o papel, a caneta e as canções.