terça-feira, 29 de maio de 2012

O nascimento do teu suicídio

     Pela primeira vez pensei em você de maneira diferente. Não aconteceu casamento a força e se quer existiu paixão. Em que lugar você se encontraria hoje? Numa esquina encruzilhada, na roda do destino, em que a vida sopra alta e os rumores da piedade te fazem titubiar. Não tenho lição pra lhe dar ou algo a lhe ensinar, nem peço perdão por assim ter pensado. Aquele hálito forte de café dissimulava o odor fétido de minha saída para este infame mundo.
    A inexistencia era o limite, mas você covardemente desistiu e teimosamente prosseguiu p'rum caminho tortuoso e sem volta que a levaria direto a um triste  fim. E quando 20 anos depois tu tivesses cumprido pequena e ínfima parte te tua missão o teu fim chegaria, algo romperia o laço traçado no momento em que decidiu segurar no ventre um pequenino ser, ainda inconsciente de tudo que ouviria e veria tu passar... hoje 15 anos depois discorda plenamente de ti e ainda assim agradece a misericórida - se assim pode chamar - e o afeto que teve mesmo sem saber onde isso a levaria e sem se peroculpar com a opiniao alheia só esperas sinceramente que tenha valido a pena não suicidar-se por você.

sábado, 19 de maio de 2012

Cores

Uma mulher com cabelos aloirados
sentada numa mesa marron sob um chão rosa desbotado
Segura sua bolsa bege como quem segura um tesouro
mexe e remexe tirando um tórrido cigarro.
O celular, o cigarro ora num cinzeiro ora a mão e a cerveja faziam-lhe companhia.

O vestido vermelho denotava o sentido da sadução
A espectativa
A espera
e eu  mero observador espreitava um momento porpício para o convite fatal.

O frio era cortante
ela estava protegida por uma jaqueta preta
E o seu semblante me encantava, como fosse a última,
a criatura mais pura-mente perversa a ignorar os meus olhares, as minhas intenções...

Confesso ser um louco
e ela uma linda miragem.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Delírios


A tua pele mista tencionei tocar,
Os teus cabelos brancos e em forma de cachos contemplei,
Aquele cheiro de flor invadia minhas narinas.

Tu tomaras três goles de um líquido que mais parecia um doce licor oriundo dos deuses do Olimpo,
lugar de onde vieras.
Deusa mais que amável, eras delicadamente pura
Despertara-me aos fascínios do submundo do prazer.
Já o amor não sei se em ti habitas e não me importo.

Sonhei por dois longos milésimos de segundos afogar-me em teu lago
Lago este nem doce, nem salgado
Límpido e mágico que perturbara minhas noites,
Impedindo-me de entregar-me aos braços de Morfeu  para sonhar belamente com o teu singelo sorriso
Aquela sutil agressão verbal na lascívia de meus tórridos lábios,
envolvendo tua fragilidade em meus braços.

Os teus passos me faziam viajar
e na penumbra da madrugada voava alto
além mar, mergulhando nas tuas profundezas intangíveis.
Escravo do teu jeito angelicalmente demoníaco que me prendia com um olhar visceral.

Eis-me aqui para o teu doce delírio
Livre de rótulos
Sem temer as artimanhas de tuas poções
Aberto aos teus encantos
E puramente teu...
Pronto para ir além das explorações corporais meramente humanas.





sexta-feira, 4 de maio de 2012


Estavam todos preocupados com o resultado, indignados com a falta de comunicação, mas ninguém pôs a cara a tapa, não se moveu uma palha. Por mais de um segundo a utopia deixou de tomar conta de mim. O que imperava era o individualismo. Do outro lado da esquina um morador de rua, na mesa ao lado um grupo de seis pessoas, três mulheres e três homens, entre cervejas e outras bebidas os pensamentos divergiam e vagavam pelo submundo desconhecido de quem está fora daquela mente, seja ele qual fose: oragnizar o dia seguinte,  cuidar da gripe, o romance que vai de mal a pior, as falhas no trabalho, os poucos acertos que são quase imperceptiveis aos olhos dos outros, a chuva que não passa, o pé que dói, a esposa desgostosa e reclamona que o espera em casa, a secretária que acedia o chefe, o carteiro que não passa, o bebe que só chora, o telefone que não para tocar, uma infinidade de situações e coisas, canseira total... Enquanto um deles assoava o nariz, os outros o ignoravam, duas mulheres bem próximas conversavam algo sem fundamento, um cara zapiava o telefone, um outro coçava a barba e um terceiro atendia o celular, outra mulher mexia nos cabelos e não parava de falar, nenhum deles sequer notou que  havia um cão sentado a espreita de uma migalha, assim como o morador de rua do outro lado (esperançoso por uma resto de alimento que lhe saciasse a fome). O locutor observava os dispostos atentamente analisando nas palavras alheias a verdade ignorada. Num sistema de sistemas é você quem tem que mudar.